- Museu da Justiça
- Exposições
- II Mostra Artística e Literária dos COGENs
- Texto Leticia Bravo
De hábitos a desábitos
Habitua-se
À presença, à ausência,
à monotonia, a repartir espaço,
à companhia, à ingerência,
à solidão, à rotina, ao cansaço
Ao amor, à antipatia,
à fossa, ao ócio,
ao calor, ao frio, à ironia,
ao barulho, ao silêncio,
à atenção, ao elogio
À aparente indiferença,
ao bom tratamento, à educação,
ao realismo, à falta de otimismo, à descrença
Ao luxo, ao lixo, a tudo se habitua
Facilmente, só ao que for bom
Habitua-se
À cobrança, a estar sob pressão,
à correria, à lentidão
Até mesmo à paralisia se habitua
Aos rituais religiosos, à hierarquia,
ao meio, à cultura, à tradição
Habitua-se, eu sei,
mas não deveríamos,
à desigualdade de gênero, ao sexismo, à misoginia,
a preconceitos sobre crença, orientação sexual,
à inacessibilidade, ao racismo, à xenofobia,
ao assédio, ao etarismo, à violência física ou moral
Seja ela qual for,
à discriminação, não se habitue
Rompa o silêncio:
conte, registre, dedure
Não é não!
Não e não.
Leticia Bravo