Tecnologia e apodrecimento cognitivo são temas do Observatório em Diálogo
Professor Lenio Streck (à esquerda) e diretor Luã Jung (à direita) palestram sobre o impacto que a tecnologia causa na linguagem e na cognição
Em 2024, a palavra do ano eleita pelo dicionário Oxford foi “brain rot”, que, em português, significa “podridão cerebral”. Mas, o que seria o apodrecimento do cérebro e qual é a relação entre o termo e a sociedade? Para responder à questão o Observatório de Pesquisas Felippe de Miranda Rosa, do Centro Cultural do Poder Judiciário (CCPJ), convidou o professor Lenio Streck para a nova edição do programa Observatório em Diálogo. A palestra, que teve como tema “Literatura em Tempos de brain rot”, foi realizada nesta quinta-feira, dia 16 de outubro, no Auditório da Mútua dos Magistrados, no Edifício Desembargador Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
O termo “brain rot” nomeia o declínio das capacidades cerebrais ocasionado pelo consumo excessivo de conteúdos digitais, estímulos vagos de sentido, vício em telas e uma forma de comunicação focada na imagem. O fenômeno, percebido nas redes sociais, smartphones e telas, também é indicado como um dos responsáveis pela crise do pensamento reflexivo e crítico.
“Existe uma relação direta entre pensamento e linguagem. E, na era da técnica, fazemos um atalho cognitivo para nos comunicarmos. Estudos de diferentes teóricos abordam como a linguagem seria afetada pelas novas tecnologias. Um dos presságios que se mostrou verídico foi a simplificação da linguagem. Vivemos na era dos emojis, memes e figurinhas. Ao simplificar a linguagem, no entanto, a função cognitiva e cerebral vai sendo danificada. Daí vemos por que precisamos explicar uma ironia na internet, por exemplo”, disse o professor titular do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, do Rio Grande do Sul, Lenio Streck.
O diretor do Observatório de Pesquisas Felippe de Miranda Rosa e mediador da exposição, Luã Jung, também ponderou a inteligência artificial no debate. “Estamos muito habituados a falar sobre o Direito, a tecnologia e a inteligência artificial e muito se discute sobre os limites da IA. No entanto, essa discussão geralmente é feita de maneira instrumentalizada. É como se a inteligência artificial e seu uso fossem um dado da realidade absolutamente inevitável ou inquestionável - esse cenário também dialoga com o problema do ‘brain rot’”, concluiu.
KB/SF
Fotos: Brunno Dantas/TJRJ