Segunda edição do Cine Magister exibe o documentário ‘Homens Invisíveis’
Os juízes Eric Scapim, Daniela Bandeira e André Brito debatem com a Dra. Carla Watanabe que participou remotamente do evento
O Auditório Desembargador Nelson Ribeiro Alves recebeu, na segunda-feira (2 de junho), a segunda edição do Cine Magister, programa do Centro Cultural do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (CCPJ-RJ). O evento exibiu ao público o documentário “Homens Invisíveis” e, ao final da sessão, promoveu um cine-debate.
Com duração de cerca de 30 minutos, o filme dirigido por Luis Carlos de Alencar evidencia as experiências de pessoas transmasculinas em unidades prisionais a partir de seus próprios relatos, abordando os preconceitos e discriminações sofridos desde a abordagem policial e que se estendem por todo o período em que estiveram nas prisões, refletindo em seus comportamentos após o retorno à sociedade.
Na abertura, a juíza Daniela Bandeira, responsável pela mediação do cine-debate, reforçou o papel do CCPJ em promover um espaço de reflexão dentro do Poder Judiciário: “O Centro Cultural foi idealizado para trazer um olhar diferente e colocar em perspectiva temas que são muito importantes e muito caros para nós, que atuamos no dia-a-dia recepcionando os conflitos e tentando pacificá-los”.
Em seguida, falou a advogada e titular do 28° Tabelião de Notas de São Paulo, Dra. Carla Watanabe, convidada especial que participou de forma remota. Ela destacou a sensibilidade do documentário no tratamento com as pessoas transmasculinas, mas fez questão de frisar que esse não é o cenário encontrado no cotidiano, que acaba sendo marcado pela invisibilidade. “As pessoas trans não tem um enquadramento na matriz heterossexual normativa em que a sociedade vive. A sociedade não entende e não consegue visualizar as pessoas trans como humanas, como detentoras de direito.”
Também participou do debate o juiz Eric Scapim, presidente do Fórum Permanente do Direito da Antidiscriminação da Diversidade Sexual da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Em sua participação, fez menção ao Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, que será celebrado em 28 de junho, e reforçou a fala da Dra. Carla sobre os direitos das pessoas trans. “Foi dito por um dos personagens do filme que o homem trans não existe. E isso gera um paradoxo, pois o direito humano existe pela simples condição de ser humano da pessoa. E, quando falamos que aquela pessoa não existe, ela não é reconhecida jurídica e socialmente como uma pessoa titular de direitos, e acaba se tornando passiva de exclusão pela sociedade”, frisou.
O juiz André Brito, vice-presidente do Fórum Permanente do Direito da Antidiscriminação da Diversidade Sexual da Emerj e responsável pela Justiça Itinerante da Central do Brasil, relatou dificuldades enfrentadas por pessoas trans, que não se limitam às unidades prisionais e, em sua opinião, tem relação com a violência praticada contra corpos femininos: “Um homem trans não sofre violência porque performa o feminino, mas porque na origem ele é feminino. Uma mulher trans sofre violência porque ela abandona o masculino para o feminino. Então, na verdade, o que a sociedade mais precisa é respeitar o feminino e entender que cada um pode e deve ser aquilo que quiser.” Ao final, o juiz ressaltou a importância do trabalho da Justiça Itinerante, que foi responsável por realizar mais de 5.000 processos de requalificação de nome e gênero no estado do Rio de Janeiro.
PB*
*Estagiário com supervisão de MB.
Foto: Felipe Cavalcanti/TJRJ