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Diretora do curta “Cores Pretas” conversa com o público no Museu da Justiça
Notícia publicada por Assessoria de Imprensa em 05/10/2023 13:01

A diretora de "Cores Pretas" Stella Tó Freitas conversa com o público após a exibição do documentário no Museu da Justiça 

 

Oito em cada dez mortes violentas intencionais no Brasil são de crianças e adolescentes negros, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi com esse apontamento que a jornalista Stella Tó Freitas abriu a conversa com o público sobre os impactos do racismo na infância, após a exibição do seu documentário “Cores Pretas”. Na quarta-feira (4/10), às 17h, o Museu da Justiça do Rio abriu as portas para a terceira apresentação do filme, que foi dirigido, roteirizado e produzido pela jornalista. A obra conta as vivências de enfrentamento ao racismo de cinco mulheres negras que, desde a infância, foram expostas a essa violência.

Nascida em Custodópolis, em Campos dos Goytacazes, uma comunidade que até os anos 90 não tinha registros no mapa e que recentemente foi reconhecida como um quilombo urbano, Stella afirma que a motivação para criar o filme foi o interesse em compreender que atravessamentos perpassam a vida de negras que estão em determinados espaços. “A minha proposta foi entender como o racismo atravessa a vida de mulheres negras que estão em lugares de poder, o que elas tiveram que enfrentar, que tipo de perspectivas, de acessos e de possibilidades essas mulheres têm, além de como elas se sentem”, contou.

O que era para ser uma campanha de um minuto para as redes sociais, acabou virando um filme quando a primeira entrevistada, a atriz Lúcia Tabali, conversou por uma hora sobre suas experiências. Em seguida, mais quatro mulheres se voluntariaram para narrar como o racismo na infância impactou sua autoimagem e suas relações sociais. “Isso era uma questão que doía. Eu não guardo na memória exatamente o que era, mas doía e isso me tornou uma pessoa com uma gana muito grande de rebeldia e enfrentamento”, compartilhou Lúcia no documentário.

Para a diretora do filme, o audiovisual é uma ferramenta de mudança social que possibilita a criação de narrativas próprias. “Eu acredito muito na transformação através da arte. O cinema tem a capacidade de mexer com vários sentidos nossos e com a nossa imaginação. Ele é um portal, você entra e fica ali algumas horas mergulhado em uma história. Então que a gente possa mergulhar na nossa própria história, se enxergar, se ver e se reconhecer.  E a comunicação nos dá esse poder de influir, transpassar e criar nossas narrativas”, revelou.

Uma das formas de combater o racismo apontada pela professora de educação artística do Museu Isadora Alves, que organizou o bate-papo ao lado da colega Lívia Prado, é através da identificação dessa violência nos detalhes do dia a dia. “É importante identificarmos essas pequenas causas do racismo estrutural que estão introjetadas na nossa mente para combater o racismo. E o Tribunal de Justiça, sendo um espaço de promoção de justiça e de direitos, é o principal local para irmos contra essa estrutura”, destacou.

Entre o público presente estava o engenheiro clínico da Secretaria Estadual de Saúde, Roberto Valleck. Um dos pontos que mais gerou identificação entre a obra e ele foi o alisamento do cabelo. “O documentário fala sobre outras pessoas, mas também fala sobre nós. Eu me identifiquei com parte da minha infância. Quando era mais jovem deixei meu cabelo crescer e ficar "black". Aí fiz residência em um hospital de São Paulo e a minha orientadora apresentou uma certa resistência ao meu cabelo, então alisava ele com soda cáustica. Depois, repensei e mudei. Hoje, deixo ele crescer naturalmente”, relatou.

Durante a exibição da obra, a defensora pública Maria Cecília Lessa encontrou ligações entre a fala das entrevistadas e as ideias da filósofa estadunidense Angela Davis. “Eu achei muito tocante o documentário porque são depoimentos que me lembram uma fala da Angela Davis que diz que, quando as mulheres negras se movimentam, toda a sociedade também se movimenta porque elas são a base da pirâmide social”, afirmou.

 

O público que prestigiou a exibição do curta "Cores Pretas" com a diretora Stella Tó Freitas na Sala Multiuso

 

(KB com supervisão de MB)

 

Fotos: Felipe Cavalcanti/TJRJ

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