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Centro Cultural recebe Jeferson Tenório em palestra sobre literatura como direito de cidadania
Notícia publicada por Secretaria-Geral de Comunicação Social em 01/12/2025 11h28

                                                                              Jeferson Tenório e Roberta Araujo durante o evento 

O Centro Cultural do Poder Judiciário (CCPJ) recebeu, na sexta-feira, 28 de novembro, o escritor e vencedor do Prêmio Jabuti Jeferson Tenório para a palestra “Tornar-se livro: o direito ao conhecimento e à literatura”. O encontro, parte do programa Do Direito à Literatura, reuniu leitores, magistrados, servidores e profissionais da cultura em um debate sobre o papel social das narrativas e a formação do leitor como dimensão essencial da cidadania.

Autor de O Avesso da Pele, Tenório ressaltou que a leitura não é um privilégio, mas um direito fundamental, capaz de transformar percepções e ampliar a compreensão da realidade. Ele lembrou que sua reflexão sobre a função social da literatura se articula também em obras como O Beijo na ParedeEstela sem Deus e o recém-lançado De Onde Eles Vêm, que abordam temas ligados à formação, afetos e desigualdades.

Segundo o escritor, “tornar-se leitor” é um processo complexo, que começa antes mesmo do nascimento e depende de condições sociais, culturais e afetivas. Para ele, a literatura não pretende dizer a verdade, mas intuí-la e sugeri-la. “Somos seres narrativos. A ficção nos permite ver a vida de novo, com assombro, delicadeza e honestidade”, afirmou.

                                                     Escritor ressaltou que a leitura não é um privilégio, mas um direito fundamental

Formação do leitor

Tenório destacou que o livro é um objeto sofisticado, carregado de códigos, e, por isso, a formação do leitor exige mediação constante - de pais, educadores, livreiros e bibliotecários - e não apenas distribuição de exemplares. Em comunidades marcadas pela luta cotidiana, observou, o livro pode parecer distante. “Cada leitor formado tem a obrigação cívica de compartilhar a leitura, criando ambientes culturais vivos e inclusivos”, disse.

O escritor também relembrou um episódio traumático da infância, quando quase se afogou ao tentar atravessar o mar de Copacabana. A experiência, reinterpretada ao longo da vida, tornou-se metáfora para a diáspora negra e para a violência que historicamente recai sobre corpos negros, além de basear sua noção de “assombro”, que considera essencial ao exercício da leitura.

Literatura negra e enfrentamento histórico

Tenório afirmou que a literatura brasileira ainda evita lidar com as origens da violência estrutural do país. Para ele, narrativas negras ajudam a refletir “por que somos assim” e apontar caminhos que vão além da representatividade superficial. O autor também comentou a censura a O Avesso da Pele em escolas de três estados, em 2024. “Para censurar um livro, é preciso desistir de interpretá-lo”, observou.

Ferramenta de empatia

Participante do encontro, a desembargadora Cristina Tereza Gaulia, coordenadora do CCPJ-RJ, reforçou que o programa Do Direito à Literatura busca aproximar o Judiciário das realidades sociais que chegam aos tribunais.

“A leitura cria empatia, conhecimento do outro e amor pelo próximo. É essencial para quem atua na Justiça sair dos palácios e enxergar o mundo do lado de fora”, afirmou. Ela destacou que o centro cultural tem ampliado o diálogo com autores contemporâneos, como Itamar Vieira Junior e Lilia Schwarcz, além de valorizar escritores da própria instituição.

Ao encerrar a palestra, Tenório reforçou que ler é um ato de cidadania, capaz de humanizar relações e ampliar horizontes. “Leitores se afogam temporariamente nas histórias para voltar à superfície enxergando melhor. E, quando enxergamos melhor, podemos viver - e conviver - de modo mais ético”, concluiu.

AB/SF

Fotos: Felipe Cavalcanti/TJRJ