Aula Pública do Museu da Justiça debate “Ficção Americana” e os estigmas em torno da identidade negra
O professor Higor Ferreira durante aula pública do Museu da Justiça realizada nessa quinta, 13
Reflexão, memória e cinema marcaram a décima edição das Aulas Públicas do Museu da Justiça, realizada nesta quinta-feira, 13 de novembro, na sala multiuso do Edifício Desembargador Caetano Pinto de Miranda Montenegro. O encontro teve como tema “Ficção americana e os estigmas em torno de uma identidade negra” e contou com a participação do professor Higor Ferreira, doutor em História pela UFRJ. Durante a atividade, o público foi convidado a refletir sobre as representações sociais da negritude a partir do filme Ficção Americana (2023), dirigido por Cord Jefferson.
A obra, que acompanha a trajetória de Thelonious “Monk” Ellison (Jeffrey Wright), um escritor frustrado com os estereótipos em torno da ideia de autenticidade negra, serviu de ponto de partida para discussões sobre como a cultura popular constrói e perpetua determinadas visões sobre o que significa “ser genuinamente negro”, estabelecendo paralelos com as construções socioculturais da realidade carioca.
A mediação do evento foi conduzida pela historiadora e assessora técnica do Museu da Justiça, Tayná Louise de Maria, que, ao abrir as discussões sobre a temática, destacou que o filme funciona como um “espelho desconfortável de como consumimos cultura”.
“Ele não é só um filme, é um espelho desconfortável e uma sátira que aponta para o modo como a indústria transforma dor em produto, identidade em mercadoria e vozes em rótulos. E é por isso que essa aula é importante. Porque, ao discutir Ficção Americana, discutimos também como consumimos cultura, como construímos narrativas e como certos discursos se repetem quase como se fossem inevitáveis”, completa Tayná.
O ponto central do filme gira em torno de “Monk”, um escritor de romances literários sofisticados. No entanto, as editoras afirmam que o livro dele “não é negro o suficiente”. E o que seria isso? Essa é justamente a provocação do filme. Diante de toda essa frustração, ele decide escrever um livro que reúna todos os estereótipos possíveis sobre pessoas negras e publicá-lo sob um pseudônimo. O resultado é que a obra se torna um sucesso.
A partir dessa premissa, Higor demonstrou, ao longo da palestra, como o longa evidencia uma construção afro-atlântica fundamental, referindo-se à influência e ao papel central dos povos africanos e de seus descendentes na formação das sociedades, culturas e identidades do Atlântico, especialmente nas Américas, incluindo o Brasil.
“Claro que cada país tem suas próprias implicações nesse sentido: a formação da sociedade americana, a questão racial, a própria sociologia dos Estados Unidos caminha por um certo tipo de interpretação, enquanto nós temos a nossa. De qualquer maneira, ainda assim, o filme toca em temas muito importantes para a gente, e é sobre isso que vamos falar”, afirma.
VM/ MG