Caminhada pela história: servidores e magistrados percorrem a Pequena África na 6ª Trilha da Memória
Cerca de 80 pessoas participaram da 6ª edição da trilha
Uma iniciativa voltada para o resgate histórico e a valorização do conhecimento sobre o nosso passado como caminho para uma sociedade mais consciente e igualitária. Assim pode ser definida a 6ª edição da "Trilha da Memória: uma jornada pela Pequena África", que ocorreu na manhã de sábado, 1º de novembro. O evento foi promovido pelo Núcleo de Atenção e Promoção à Justiça Social (Napjus) do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
Conduzida pela historiadora e servidora do TJRJ Tatiana Lima Brandão, a trilha percorreu pontos históricos da chamada Pequena África, região central do Rio de Janeiro que guarda parte significativa da memória da escravidão no Brasil e da resistência negra e abrange os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo. A caminhada teve início às 9h, na Praça Mauá, e seguiu até as 13h, encerrando-se no Instituto Pretos Novos.
“Desde a primeira edição, nós temos percebido um interesse cada vez maior de pessoas do Tribunal em conhecer a nossa história. Recebemos muito feedback com relação à compreensão desse passado e, também, muitas das pessoas que vêm nas caminhadas são pessoas negras, que afirmam se reconhecer nesse passado, no passado de seus descendentes”, afirma a historiadora.
Turismóloga, a servidora Tatiana Lima, guiou todas as edições da caminhada
O presidente do Comitê de Promoção da Igualdade de Gênero e de Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual e da Discriminação no 1º Grau de Jurisdição (Cogen-1º Grau) do TJRJ, desembargador Wagner Cinelli, destacou a relevância de iniciativas que unem memória e reflexão social.
"É muito importante falar sobre a nossa história e o nosso passado. O Brasil é um país que, infelizmente, teve uma escravidão que durou quase quatro séculos e foi o último das Américas a ter a abolição. Isso se reflete nos dias de hoje, na estrutura social. Então, nós precisamos falar sobre isso, e uma grande forma de reduzir a nossa ignorância a respeito do passado é fazer a Trilha da Memória”, completa o magistrado.
O presidente da Cogen – 1º grau, desembargador Wagner Cinelli, compareceu ao evento
O evento também contou com a presença de representantes de outros tribunais. A presidente da Comissão de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral e do Assédio Sexual do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), juíza Luana Santana, que está de férias no Rio de Janeiro, destacou a importância de compreender a história do povo negro também no âmbito judicial.
“É preciso ter o conhecimento da cultura negra em algumas decisões judiciais e, para isso, nós temos alguns protocolos, como a decisão com perspectiva racial prevista na Resolução nº 598/2024 do Conselho Nacional de Justiça. Em algumas situações, precisamos ter o conhecimento da história do povo negro para que possamos aplicar justiça ao caso concreto”, afirma a juíza.
Entre os pontos de grande valor histórico e cultural visitados durante o trajeto, estiveram a Pedra do Sal, quilombo carioca que recebeu esse nome por ter sido o local onde africanos escravizados descarregavam o sal importado de Portugal; o Cemitério dos Pretos Novos, sítio arqueológico que, entre 1769 e 1830, abrigou o cemitério destinado aos africanos que morriam durante a travessia atlântica ou logo após o desembarque; e o Cais do Valongo, declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco em 2017 e reconhecido como o principal porto de entrada de africanos escravizados nas Américas, por onde passaram cerca de um milhão de pessoas ao longo de quatro décadas.
Participantes da caminhada observam o Painel Hilário Jovino
Cerca de 80 pessoas participaram da caminhada, entre elas, o analista de fiscalização e gestão de contratos do TJRJ Marcos Palermo, que destacou que a trilha aproxima o Direito da realidade social. “Pensando sempre no futuro, a gente não pode esquecer o conhecimento da história. Isso pode até parecer clichê, mas, na verdade, é um ato necessário. Nós não temos noção de como era a qualidade de vida das pessoas que moravam nos lugares que nós estamos visitando, e precisamos saber disso para entendermos a parte cultural e histórica do Rio de Janeiro”, disse.
Já a advogada Adriana Carvalho Saraiva ressaltou a importância do caráter público e inclusivo da iniciativa. “O fato dessa iniciativa do Tribunal de Justiça ser pública é muito importante, principalmente para conhecermos a nossa história e o sofrimento que os povos negros passaram com a escravidão. Também para que a sociedade possa, cada vez mais, combater suas desigualdades”, afirmou.
VM/ SF
Fotos: Rafael Oliveira / TJRJ