Andréa Beltrão transforma Tribunal do Júri Histórico em palco de memória e emoção
Tribunal do Júri Histórico é palco do espetáculo Lady Tempestade
“Um país sem memória está condenado a repetir seus fracassos e suas tragédias. Foi por isso que, depois de ler o diário — um relato tão duro por ser real, com fatos registrados com data, hora, mês, ano e nomes —, fiquei profundamente atravessada. Tornou-se impossível não falar de Mércia Albuquerque.”
O sentimento da atriz Andréa Beltrão deu o tom do espetáculo Lady Tempestade, que lotou o Tribunal do Júri Histórico, no Edifício Desembargador Caetano Pinto de Miranda Montenegro, na quarta-feira, 22 de outubro.
Após passar por diversas cidades do Brasil, sempre com ingressos esgotados, o monólogo Lady Tempestade chegou ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). A apresentação integrou o programa teatral Justiça em Cena, promovido pelo Centro Cultural do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (CCPJ).
A peça, dirigida por Yara de Novaes e texto de Silvia Gomez, apresenta a personagem A., uma mulher que, em uma noite chuvosa, recebe um telefonema misterioso. Do outro lado da linha, a voz de um homem anuncia que ela receberá, pelo correio, os manuscritos do diário da advogada pernambucana Mércia Albuquerque, defensora de presos políticos durante o período da ditadura militar no Brasil.
Com uma dramaturgia que transita entre o documentário e a ficção, o espetáculo conduz o público a revisitar o passado doloroso de Mércia e, ao mesmo tempo, acompanhar as tensões vividas por A. no presente.
Atriz Andréa Beltrão interpreta personagem A. na peça Lady Tempestade
A atriz Andréa Beltrão se reveza entre personagens, interage com os efeitos cênicos e transmite com intensidade as emoções da narrativa. Ela também destacou a importância de se apresentar em um espaço histórico para a Justiça.
“É um grande acontecimento estar aqui, com esse cenário real, concreto, verdadeiro, onde tantas histórias e julgamentos importantes aconteceram. É impactante falar da Mércia aqui, contar a história dela neste lugar”, completou.
A coordenadora de projetos do espetáculo Lady Tempestade, Valencia Losada, ressaltou a forma combativa, incessante e incansável da advogada pernambucana para enfrentar o autoritarismo. “Uma mulher que se colocou com uma radicalidade amorosa incrível, uma defensora dos injustiçados, dos oprimidos, daqueles que ousavam discordar de um regime responsável por desaparecimentos, mortes e injustiças. É difícil traduzir quem foi Mércia. O legado dela nos move, mobiliza, inspira e orgulha”, afirmou.
O presidente do Fórum Permanente de Pesquisas Acadêmicas – Interlocução do Direito e das Ciências Sociais da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), desembargador Wagner Cinelli de Paula Freitas, acompanhou o espetáculo e destacou a força da interpretação e da encenação. Para o magistrado, poder refletir sobre um período em que o Brasil viveu um regime de exceção, no qual muitas decisões eram subtraídas do crivo da Justiça, é algo de grande significado e relevância.
“Precisamos revisitar o passado para não repetir erros e para que possamos construir um futuro mais promissor, com uma sociedade cada vez mais igualitária e respeitadora dos direitos humanos. Que possamos seguir subindo os degraus de uma escada civilizatória”, ressaltou o magistrado.
Tribunal do Júri recebe mais duas apresentações do espetáculo: nesta quinta-feira, 23, e amanhã, 24 de outubro
VS/IA
Fotos: Rafael Oliveira/TJRJ