Itamar Vieira Junior participa de encontro literário no CCPJ

Palestra do escritor Itamar Vieira Junior lotou a Sala Multiuso do Edifício Desembargador Caetano Pinto de Miranda Montenegro em mais uma edição do programa “Do Direito à Literatura” do CCPJ. 

Na última terça-feira, 22 de julho, com a Sala Multiuso do Edifício Desembargador Caetano Pinto de Miranda Montenegro lotada, o Centro Cultural do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (CCPJ-RJ) recebeu o escritor Itamar Vieira Junior e promoveu um encontro literário com o tema “Literatura, Escravidão e Conflitos Agrários”, em mais uma edição do programa “Do Direito à Literatura”.

Vencedor, em duas oportunidades, do Prêmio Jabuti, Itamar Vieira conversou com o público em uma palestra sobre as questões sociais presentes em sua obra e o papel da literatura em trazer luz para os problemas que assombram a população brasileira desde os tempos da colonização.

“Se o empreendimento colonial tentou promover a morte da alteridade, essa impossibilidade de coexistir com o diferente, a literatura é um instrumento de resistência, nos restituindo o exercício de compreender a natureza e a condição do que é distinto. A literatura nos permite exercitar a empatia, comunicar o que há de mais profundo na experiência humana. Ao revisitarmos períodos da história que não vivemos, culturas e espaços diversos, somos capazes não apenas de vivê-la, mas também de adentrar as subjetividades dos implicados em sua trama”, afirmou o escritor. 

Autor de “Torto Arado” e “Salvar o Fogo”, Itamar Vieira Junior, falou sobre influências em seu processo de criação e anunciou que já tem novo livro para publicar

Em seguida, após a leitura de um trecho do livro “Salvar o Fogo”, último romance publicado pelo autor, Itamar participou de um bate-papo mediado pela mestre em Direito e pesquisadora em questões raciais e de gênero Roberta Araujo. A conversa abordou assuntos como as inspirações literárias durante a juventude em Salvador, como Machado de Assis, Lima Barreto e Jorge Amado, o cuidadoso processo criativo de sua obra - segundo Itamar, seu grande sucesso “Torto Arado” passou por 12 revisões antes de ser publicado - e até mesmo a trajetória profissional como servidor público. 

Formado em Geografia e doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia, o escritor foi aprovado em concurso para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), onde esteve vinculado ao Departamento de Desenvolvimento Agrário. Para ele, as experiências no campo tiveram grande influência em sua obra. 

“Eu não tinha nenhum contato com o campo além das memórias de meu pai, de meus avós. E quando eu cheguei no campo, eu fiquei perplexo em como as marcas do nosso passado ainda estavam muito vivas naquele lugar. Para mim, foi uma experiência muito rica, porque a partir dali eu comecei a ler, eu comecei a visitar. Eu aprendi, sobretudo, com trabalhadores rurais, essas pessoas no campo, quilombolas, indígenas. E a partir desse lugar eu fui compreender o que que meu pai contava, o que meus avós contavam”. 

                A exposição foi mediada pela mestre em Direito e pesquisadora em questões raciais e de gênero Roberta Araujo. 

Ainda de acordo com Itamar, o casamento entre literatura e os conhecimentos acadêmicos foram fundamentais para o sucesso de seus livros.

“Para mim, essa experiência foi transformadora. Sem o INCRA, eu não teria escrito essas histórias da maneira que eu escrevi. Eu pude aliar essa capacidade de me informar, de compreender, observar, ter atenção para aquilo que estava à minha volta e aproveitar um pouco dessa admiração que eu tenho pelo texto literário para transformar tudo isso em algo que pudesse chegar nas pessoas, que pudesse ser compreendido de uma maneira simples por qualquer pessoa”.

Ao final do encontro, Itamar Vieira Junior confessou ao público que seu próximo romance já está pronto para ser publicado e será uma sequência de “Torto Arado” e “Salvar o Fogo”, mas deixou a plateia curiosa sobre o título do novo livro e a data de lançamento.

PB*/FS

*Estagiário sob supervisão de FS

Fotos/Felipe Cavalcanti