CCPJ homenageia o poeta Manoel de Barros na estreia do “Justiça Poética”
A atriz, poeta e jornalista Bianca Ramoneda comandou um sarau literário sobre a obra de Manoel de Barros na primeira edição do “Justiça Poética”
“Não quero saber como as coisas se comportam. Quero inventar comportamento para as coisas.” Os versos do poema “Comportamento”, de Manoel de Barros, servem para demonstrar de forma sucinta a maneira que o poeta enxergava o mundo. Na noite da última terça-feira, dia 24 de junho, ele foi homenageado pelo Centro Cultural do Poder Judiciário do Estado Rio de Janeiro (CCPJ-RJ) na estreia do novo programa “Justiça Poética”.
Nascido na cidade de Cuiabá (MT) no ano 1916, Manoel de Barros foi ainda bem novo para Corumbá (MS) e viveu por lá até os 17 anos, quando se mudou para Campo Grande (MS) com o objetivo de concluir os estudos em um internato. De lá, rumou para o Rio de Janeiro, onde se formou bacharel em Direito no ano de 1941 e, pouco tempo depois, em 1943, foi estudar pintura e cinema nos Estados Unidos. Em seu retorno ao Brasil, se consolidou no Rio de Janeiro e conheceu a esposa Stella, mãe de seus 3 filhos. Já em 1959, optou por voltar ao seu estado de origem para fundar uma fazenda em terras que herdou na região do Pantanal. Sua obra, no entanto, passou a ganhar notoriedade apenas nos anos 80, quando o jornalista Millôr Fernandes passou a publicar alguns de seus poemas na Revista Isto É.
Para fazer um passeio pela vida e obra de Manoel de Barros, o CCPJ-RJ convidou a atriz, poeta e jornalista Bianca Ramoneda, que comandou um sarau literário na primeira edição do “Justiça Poética”. Em sua apresentação, ela mergulhou nos versos escritos pelo poeta para mostrar que, mesmo com seus malabarismos gramaticais, neologismos e inversões poéticas, seus poemas se conectam e contam um pouco da história de sua vida. “É como se fosse uma partitura, feita por várias linhas simultâneas onde a gente encontra o acorde”, afirmou Bianca.
Bianca também aproveitou a oportunidade para conversar com o público sobre as interações que teve com Manoel de Barros enquanto este ainda era vivo. Foi ela quem escreveu o roteiro e atuou na peça “Inutilezas”, baseada na obra do poeta. Ela conta que passou a ler suas publicações antes de se encontrar com Manoel em uma premiação literária e que, a partir dali, começaram a conversar através de cartas. Em uma delas, escreveu ao poeta sobre o desejo de transformar seus versos em peça de teatro e recebeu um retorno positivo.
Ela também contou que, mesmo com a sua formação em Direito, a timidez foi um empecilho para que Manoel seguisse a carreira na profissão. “Ele não se imaginava falando em público, por isso não seguiu no Direito e esse lado da sua vida não aparece na obra. Mas alguns dos seus poemas têm uma embocadura, uma certa pompa de afirmação que lembra a atuação de um promotor de justiça. E o que ele está defendendo através dos poemas, na verdade, é uma inversão de valores sociais, de gramática e sintaxe. E isso provoca um ruído que mexe com nossa cabeça.”
"É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira."
Livro Sobre Nada, Manoel de Barros.
PB*/FS
*Estagiário sob supervisão de FS
Fotos/Felipe Cavalcanti