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Primeira edição do Cine Magister promove bate-papo sobre o documentário “Holocausto Brasileiro”
Notícia publicada por Assessoria de Imprensa em 29/05/2025 17:16

Foto mostra o ambiente de auditório, tendo uma mulher de cabelos loiros e casaco cinza falando ao microfone  para uma plateia sentada. A mulher está de pé e à frente da mesa principal do auditório, que também conta com telão ao fundo, à esquerda da tela

A desembargadora Cristina Tereza Gaulia, destacou à plateia, antes do início da projeção, que as atividades do CCPJ-RJ buscam expandir conhecimento através da cultura

Nesta quarta-feira (28/05), o Observatório de Pesquisa Desembargador Felippe de Miranda Rosa, divisão vinculada ao Centro Cultural do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (CCPJ-RJ), promoveu a primeira edição do Programa Cine Magister. Em sua estreia, a atividade contou com a exibição do documentário “Holocausto Brasileiro” e com um cine debate logo em seguida.

Antes do apagar das luzes do Auditório Desembargador Nelson Ribeiro Alves para o começo da sessão, a presidente do CCPJ-RJ, desembargadora Cristina Tereza Gaulia, reforçou que as atividades do Centro Cultural buscam ampliar o conhecimento dos atores do Poder Judiciário. “O CCPJ traz peças teatrais, lançamentos de livros, música. E com todos esses caminhos da cultura, o que nós queremos é expandir conhecimento. Se você fica só no saber técnico do Direito, não consegue ampliar os saberes necessários para a prática da justiça.”

“Holocausto Brasileiro”

Lançado em 2016, “Holocausto Brasileiro” se baseia no livro de mesmo nome escrito pela jornalista Daniela Arbex, que dirigiu o documentário ao lado de Armando Medz. Em tom crítico, o filme conta a história do Hospital Colônia de Barbacena, local construído no ano de 1903 para tratar pessoas com doenças psiquiátricas e tuberculosos, mas que a partir da década de 30 acabou se tornando um “depósito de pessoas indesejadas” pela sociedade da época. A produção reúne registros documentais da violência e desumanização sofrida pelos pacientes do hospital, além de depoimentos de ex-funcionários, vítimas e profissionais da imprensa que estiveram no Hospital Colônia.  

Tendo como objetivo refletir sobre essa tragédia histórica, que se estendeu por décadas e deu fim a vida de cerca de 60 mil pessoas, o evento recebeu o professor da UFRJ, mestre em psiquiatria e doutor em medicina, Pedro Gabriel Delgado, para uma roda de conversa. Ao lado dele estiveram o desembargador Humberto Dalla Bernardina de Pinho, responsável pela mediação do debate, o desembargador Cezar Augusto Rodrigues da Costa e a juíza Katia Cilene Bugarim.

O Prof. Dr. Pedro Gabriel Delgado trouxe relatos de sua experiência enquanto psiquiatra, tendo visitado diversas instituições como o Hospital Colônia ao longo de sua carreira, e também comentou sua participação na elaboração da Lei Federal 10.216, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica. Em sua fala, considerou que os relatos do documentário devem provocar um desconforto em quem assiste, mas que o modelo de tratamento observado em Barbacena não faz mais parte da realidade brasileira. “Embora tenha sido com um certo atraso em relação a outros países, a substituição desse modelo e dessas instituições por tratamentos feitos na comunidade vem sendo bem-sucedida no Brasil. A reforma psiquiátrica buscou, de fato, substituir e construir condições para que se pudesse oferecer um tratamento capaz de produzir uma melhora de vida das pessoas.”

O desembargador Cezar Augusto Rodrigues da Costa citou passagens do livro de Daniela Arbex e enfatizou que, para além das questões relacionadas à medicina, o documentário é importante para analisar as relações de poder na sociedade. Para ele, situações como a do Hospital Colônia ainda se refletem na nossa sociedade atual através de formas de descriminação e violência, tendo o Estado como responsável. “Se você tem um sistema de regulação e esse sistema permite que determinadas orientações e comportamentos sejam considerados como desviantes, isso deve ser atribuído ao Estado.” 

A juíza Katia Cilene Bugarim relatou ter experimentado um sentimento de profunda angústia diante dos fatos evidenciados no documentário e promoveu uma reflexão a partir de sua atuação profissional ao falar sobre as garantias individuais. “A liberdade, acima de um direito, é um valor inalienável. Eu prefiro viver num mundo em que por vezes, no exercício dessa liberdade, eu venha cometer excessos, do que viver num mundo em que essa liberdade seja aniquilada.”

Observatório de Pesquisa Desembargador Felippe de Miranda Rosa
 
O Observatório de Pesquisa Desembargador Felippe de Miranda Rosa é uma divisão do CCPJ-RJ que tem como objetivo realizar pesquisas de caráter transdisciplinar preferencialmente nas áreas de Humanidades, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Naturais, e Tecnologia da Informação dentre outras, para aprofundar o conhecimento do Poder Judiciário sobre a formação, história, transformações e complexidades da sociedade brasileira e suas instituições, bem como para expandir os saberes sobre ferramentas tecnológicas, por meio do trabalho conjunto de especialistas destas áreas.

PB/FS
*Estagiário sob supervisão de FS
Fotos de Pedro Borges