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“Círculo de Acolhimento para Refugiados” dá voz a imigrantes no Fórum do Méier
Notícia publicada por Assessoria de Imprensa em 27/05/2025 17:55

 

Os imigrantes puderam trocar suas experiências em um espaço especial no Fórum do Méier, na Zona Norte do Rio,  com apoio do Cejusc, da Cáritas Arquidioceseana, de especialistas facilitadores e assistentes sociais 

O primeiro encontro do “Círculo de Acolhimento para Refugiados” deste ano foi marcado pelo compartilhamento de memórias afetivas vivenciadas pelos participantes em seus países de origem a partir de uma lembrança feliz. Eles foram recebidos na última terça-feira (20/5) em um espaço especial do Fórum Regional do Méier, onde tiveram lugar de fala e escuta com o auxílio de uma equipe de facilitadores, assistentes sociais e da coordenadora do curso de Português e diretora do Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES) da Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, Tatiana Rodrigues. O programa promove encaminhamento necessário a partir das suas necessidades, incluindo atendimento médico, alimentação, psicológico, social e jurídico.

A advogada Sidineia dos Santos, que é agente facilitadora, teve a experiência de conduzir o círculo com Alice Dubauskas, que atuou como co-facilitadora. Sidneia explicou que a Cáritas foi parte importante durante pesquisa do perfil do círculo e viabilizou o contato com os participantes para adaptar o projeto de construção de paz ao público alvo. O objetivo é, a partir do tema, compartilhar vivências.

“Eu e Alice pesquisamos sobre o tema e chegamos na Cáritas para poder ter contato com os mesmos, sabermos da história deles, de como eles chegaram ao Brasil, suas necessidades, a fim de encontrar a melhor forma de acolhimento. Eles se orgulham de estarem aqui, com acesso à saúde, a contribuição previdenciária, transporte e até à polícia, no caso de necessidade”, disse ela.

A colombiana Aracely Novasso, de 63 anos, passou dois anos na Venezuela e não pensa em sair do Brasil, onde encontrou esperança no lugar das barreiras vivenciadas ao longo da vida. Ela mora sozinha no bairro do Caju, na Zona Norte do Rio, e não gosta de lembrar das dificuldades que enfrentou – passou fome e presenciou agressões. Considera uma página virada na vida. Ela chegou ao país há mais de seis anos após uma de suas filhas se casar com um brasileiro e morar na capital fluminense. Conheceu o “Círculo de Acolhimento para Refugiados” através da Cáritas, onde se sente acolhida e conhece pessoas que passaram por situações semelhantes à dela.

O grupo participante do encontro elogiou o acolhimento proporcionado pelo círculo e pelo Brasil, o país que escolheram para reconstruir suas vidas
 

“Sou muito grata ao Tribunal por proporcionar essa oportunidade de compartilhar um pouco da minha vida com pessoas que passaram por dificuldades como eu, mas que tiveram a sorte de encontrar aqui pessoas como as que participam do grupo. Aqui tenho amigos, lembramos das histórias boas que passamos e que sonhamos conquistar. Hoje consigo dormir, fazer exercícios, às vezes encontro meus netos e minha filha que moram perto de mim. Estou aprendendo português no curso. O Brasil me abraçou”, disse.

Tatiana Rodrigues explica que o PARES da Cáritas tem como premissa auxiliar os refugiados através de várias ações coordenadas. O setor de integração e empregabilidade, por exemplo, conta com pessoas que fazem o currículo para que financiadores possibilitem a profissionalização. Já a plataforma Trampolim, uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho e das agências da ONU, cadastra perfis de pessoas refugiadas que estão procurando emprego e cruza com as vagas de empresas que estão procurando – contribuindo para a diversidade. Há ainda um setor de assistência social para solicitar bolsa-família, orientação de atendimento no SUS, matrícula de crianças em escolas e recebimento de doações.

“Essa foi a segunda vez que participamos do encontro e as pessoas que participaram ano passado adoraram a experiência e repetiram. Para os refugiados, é muito importante ter esse espaço de fala, escuta e troca de experiências. Esse círculo, especificamente, teve um perfil de pessoas idosas com mais de 60 anos. Cada um compartilhou um fato engraçado da vida e todos interagiram”, disse.

O objetivo da oficina é estimular e oferecer um espaço seguro, sensível e humanizado para escuta, partilha e construção de vínculos entre as pessoas refugiadas, migrantes e a comunidade local. A juíza Cláudia Márcia Gonçalves Vidal, diretora do Fórum do Méier, coordenadora do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania e integrante do Comitê Permanente de Acessibilidade e Inclusão (COMAI) é a idealizadora do “Círculo de Acolhimento para Refugiados.

“Esses círculos são uma oportunidade de o refugiado ser ouvido, sem julgamento, conhecer outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes, compartilhar a sua cultura, fortalecer também uma rede de apoio mútuo, já que estão sozinhos, muitas vezes sem suas próprias famílias, e cuidar dessas feridas emocionais do deslocamento para uma nova terra, uma terra desconhecida. Na verdade, mais do que um encontro, ele é uma reunião em que se quer agir, pregar, um gesto de humanidade ativa. Na verdade, ninguém é estrangeiro na dor, porque a dor é da saudade de não estar na sua própria casa, de não estar junto aos seus familiares e tendo que reconstruir toda a sua vida, muitos deixando para trás a casa, a família, o lar, a segurança, para uma terra desconhecida sem nenhuma referência. Então, esse espaço que nós construímos é um espaço de escuta, de partilha, de fortalecimento do grupo, para que eles possam se sentir ao menos acolhidos”, disse a magistrada.

SV/FS

Fotos: Divulgação