Ao volante, mulheres fazem história na França e no Tribunal de Justiça do Rio
Anne de Rochechouart de Montemart, mais conhecida como duquesa Anne d’ Uzés fez história. Foi a primeira mulher do mundo a tirar carteira de motorista, uma habilitação. Também foi a primeira a ser multada por excesso de velocidade, trafegando a 15 km em ruas onde o limite de velocidade era de 12km. Isso foi na França em 1889. E, agora, 135 anos depois desse feito, Vanessa da Silva Godinho também faz história ao volante. Ela, que também tem um quê de nobreza, trabalha num palácio: o Palácio da Justiça, sede do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, no Centro do Rio.
Vanessa, de 41 anos, mais de 20 dedicados à profissão, é a única mulher no meio de mais de 300 homens que exercem a função no Tribunal de Justiça do Rio. E, ao contrário de madame d’Uzés, é considerada uma motorista exemplar. Multas por excesso de velocidade não fazem parte de seu prontuário do Detran.
Aos 5 anos já brincava de motorista
O amor por carros veio desde menina. Aos 5 anos, Vanessa já entrava no carro do pai, fingia dirigir e queria ser motorista de táxi. Tanto que já simulava uma conversa: “Bom dia, boa tarde! A senhora vai para onde?”, tudo isso falando sozinha e divertindo seus pais na garagem da família.
Respeitada pelos colegas, ela garante que, ao longo de mais de 20 anos com carteira profissional, nunca sofreu qualquer tipo de preconceito, nem quando dirigia ônibus em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, e podia ser vista todos os dias nas linhas 31, 6 e 14, que faziam o trajeto Barreto x Praia da Luz, São Gonçalo x Cabuçu e Jardim Catarina x Coroado.
“Eu acredito que seja porque respeito todos. Trato as pessoas muito bem. No meu ônibus, sentia sempre as pessoas felizes e seguras comigo ao volante. Hoje, vejo e não gosto de motoristas que sequer cumprimentam o passageiro quando recebem um afago e um gesto de educação. Custa dar um bom dia? Acho que por isso nunca tive problemas ao volante dos coletivos”, conta a motorista.
Mulheres são mais prudentes e sofrem menos acidentes
Um recente estudo da Unicamp, encomendado pela empresa ZigNET, aponta que homens sofrem mais acidentes de trânsito do que mulheres. Vale ressaltar que isso é válido para qualquer tipo de acidente. O estudo registrou 183% mais colisões de motoristas homens do que mulheres, entre os meses de junho de 2021 e 2022, o que comprova as estatísticas feitas em anos anteriores.
No Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro como motorista há oito anos, Vanessa Godinho, além de querida por todos, virou uma espécie de xodó. Todos têm um carinho muito grande por ela.
Elogios do chefe
Paulo Melo, chefe do serviço de Gestão de Solicitação de Transportes do TJRJ, há 32 anos no Tribunal, fala com muito orgulho da profissional que ela é: “Ela é uma excelente motorista! Também é educada, respeitosa e aqui não tem preconceito nenhum pelo fato de ela ser mulher. Muito pelo contrário. Adoramos tê-la aqui. Eu digo sem tirar e nem pôr que ela é especial e todos adoram tê-la ao volante. Só recebo elogios”, atesta Melo.
O chefe diz não entender o motivo de poucas mulheres se inscrevem para serem motoristas no Fórum e manda um recado: “Nós estamos aqui de braços abertos para as mulheres. Venham! Aqui não há nenhuma discriminação e preconceito. Serão todas muito bem-vindas, eu garanto.”
Paulo Melo conta que o número de mulheres motoristas no TJRJ já foi maior. Chegou a dez e, agora, só conta com Vanessa, que diz: “Eu sou muito feliz aqui. Um ambiente fantástico. Todos meus colegas são maravilhosos. Que venham outras mulheres porque tenho certeza de que serão muito bem recebidas. Se depender de mim, me aposento no Tribunal e não saio de jeito nenhum”, afirma a motorista que faz história.
PF/MB
Fotos: Brunno Dantas/TJRJ