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Dia do trabalho: uma reflexão a partir da pandemia do Coronavírus
Notícia publicada por DECCO-SEDIF em 01/05/2020 09:09

Primeiro de maio: data na qual se comemora o Dia do Trabalho, momento no qual trabalhadores em vários países ao redor do mundo se dedicam a rememorar suas lutas e comemorar os direitos alcançados. Cabe lembrar que foi no dia 1º de maio de 1941 que o presidente Getúlio Vargas comunicou, em um ato público realizado no campo de futebol do Vasco da Gama no Rio de Janeiro, a instalação da Justiça Trabalhista no Brasil(1), fato histórico significativo para a sociedade brasileira.

Passados quase 80 anos, neste ano de 2020, será a primeira vez em que os trabalhadores não poderão se reunir para comemorar a data devido a um problema de saúde pública: a pandemia do Coronavírus. O momento se faz propício a uma reflexão acerca do significado do trabalho para nossa sociedade, como nos provocam os seguintes versos de Gonzaguinha(2):

“E sem o seu trabalho

O homem não tem honra

E sem a sua honra

Se morre, se mata”

Inúmeras são as vezes em que já ouvimos a fala: " – Eu sou trabalhador", numa forma de clamar por respeito ao indivíduo. Porém, nem sempre a identidade de trabalhador foi valorizada. Na Antiguidade, quem trabalhava eram os escravos, e, na Idade Média, os servos; à nobreza não cabia a labuta. De acordo com Enriquez(3), é somente a partir da revolução industrial inglesa e das revoluções políticas americana e francesa que o trabalho passa a ser valorizado, por ter se tornado o símbolo da liberdade do homem, pela sua capacidade de transformar as coisas, a natureza e a sociedade. A partir dessa época, foi disseminada a ideia de que os indivíduos que não trabalham são inúteis, e que a sociedade moderna é uma civilização do trabalho e dos trabalhadores, passando o trabalho a ser um elemento constitutivo da nossa identidade.

Num momento de pandemia, no qual, em sua maioria, o modo pelo qual o trabalho que vinha sendo executado foi modificado, em que tantos não conseguem ser remunerados, em que outros mudam suas atividades como forma de garantir a própria sobrevivência, surge a pergunta: o que significa o trabalho para nós? Não somente no sentido de estar empregado, mas com o significado de prática “[...] na qual se expressam e se realizam nossas identidades pessoais e coletivas, nas quais se afirma o sentido que a vida tem para nós”(4). Para nós, humanos, diferentemente dos animais, ao iniciarmos um trabalho, já temos em mente o resultado que esperamos, não apenas transformamos um material em algo diferente, mas também temos um propósito ao investirmos nessa modificação(5).

Nesta árdua experiência pela qual estamos passando, a cada dia presenciamos uma nova prática entre as pessoas com as quais convivemos: é o cabeleireiro que se confina junto aos frades franciscanos para distribuir quentinhas à população de rua; é a empresária que busca formas de contribuir para aqueles que estão sem renda; é a vizinha que passa seu tempo confeccionando máscaras para distribuição gratuita, etc., dentre muitas outras das quais temos conhecimento cotidianamente. No âmbito das instituições, podemos destacar o nível de produtividade alcançado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que vem alcançando recordes desde a adoção do Regime Diferenciado de Atendimento de Urgência, já tendo contabilizados 213.570 sentenças, 175.165 decisões, 454.657 despachos e 3.943.422 atos cumpridos por servidores.

Estamos presenciando a manifestação da relevância do trabalho em nossas vidas, para além do seu papel indispensável do nosso sustento. Temos algo a comemorar, nesse dia do trabalho do ano de 2020.

 

1 MOREL, R.L.M; PESSANHA, E.G. da F.; A Justiça do Trabalho. In: Tempo Social, USP, 2007

2 Em 1983, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha), lançou a música “Um homem também chora (Guerreiro Menino). Disponível em https://www.letras.mus.br/gonzaguinha/250255/

3 ENRIQUEZ, E.; Perda do trabalho, perda da identidade. In: Cad.Esc.Legisl.; Belo Horizonte, jul./dez. 1999.

4 LHUILIER, D.; O agir em psicossociologia do trabalho. In: Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v.23, n.1, jan.2017.

5 BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista – a degradação do trabalho no século XX. Zahar Editores, Rio de Janeiro: 1981

 

HA/CHC