Bate-papo com autor e diretor encerra temporada de “Moria” no CCPJ-RJ
A desembargadora Cristina Gaulia (segunda, da esquerda para direita), com integrantes do elenco e da produção conversam com o público após a apresentação da peça, na Sala Multiuso
Após a última encenação da peça teatral “Moria”, nesta quinta-feira, 17 de julho, encerrando a temporada no Centro Cultural do Poder Judiciário, o autor e diretor da montagem, Moacyr Góes, participou de bate-papo com o público que lotou a Sala Multiuso do Edifício Desembargador Caetano Pinto de Miranda Montenegro. No debate, ele destacou a importância de a peça propor a discussão sobre a intolerância.
“Moria não é uma peça sobre o cristianismo, nem é uma peça evangelizadora. Moria é uma reflexão sobre a intolerância em relação às mulheres e aos cristãos. A gente poderia, infelizmente, estar tratando de outras intolerâncias muito terríveis no mundo que a gente vive. Por exemplo, aos gays e às mulheres em muitos países do mundo. Gays, por exemplo, são jogados de cima de prédios e existe uma população embaixo que aplaude. Mulheres que não podem, por exemplo, estudar, nem sair às ruas, porque estão sem burca, e são vilipendiadas”, frisou Moacyr Góes.
A montagem, encenada pelas atrizes Luísa Vianna, Tarciana Giesen e Deborah Sargentelli, retrata a história de duas atrizes iranianas que, ao se converterem ao cristianismo, sofrem perseguição. Na tentativa de fugir da opressão, a dupla busca refúgio na Europa, mas é aprisionada no campo de refugiados de Moria, na Ilha de Lesbos, na Grécia.
Moacyr chama a atenção do fato de as personagens serem perseguidas unicamente por serem o que são e não porque fizeram algo errado.
Elenco recebe aplausos de pé ao final da apresentação de 'Moria', produzida pelo CCPJ
Conduzido pela desembargadora Cristina Gaulia, magistrada responsável pelo CCPJ, o bate-papo contou, ainda, com a participação do professor do Programa de Pós-Graduação do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em História Comparada, André Leonardo Chevitarese, que atuou como consultor histórico na montagem da peça.
“Eu e Moacyr temos uma caminhada de longa duração, desde 2002, quando colaborei no filme Irmãos de Fé, com o padre Padre Marcelo Rossi. O bacana é que o Moacyr ajuda bastante no sentido de dizer exatamente o que ele precisa de conteúdo para suas montagens. Obviamente, o Moacir, lapida todo o material bruto e dados de pesquisa que entrego e produz essas coisas lindas. A gente troca informações, mas o sucesso de tudo que vocês puderam assistir hoje é da cabeça do Moacyr”, afirmou o professor.
O autor e diretor elogiou a iniciativa de trazer a montagem de “Moria” para o espaço do Poder Judiciário.
“Para nós, foi uma alegria porque acho que além de termos sido muito bem acolhidos, acho fundamental apresentar nesse espaço do Judiciário as questões que a peça traz sobre justiça, intolerância, sobre a importância dos marcos civilizatórios, das leis. A gente vive um embate em relação a isso e não podemos deixar de acreditar que a justiça é possível”, pontuou.
A desembargadora Cristina Gaulia ressaltou que a ideia de oferecer espetáculos como “Moria” tem a intenção de propor a reflexão ao público que frequenta o CCPJ.
“Essa peça teve esse estímulo, desde o início, de fazer com que as pessoas se perguntassem, afinal de contas, o que é Moria. Quando algumas pessoas se deram conta de que Moria era um campo de refugiados em Lesbos na Grécia, as pessoas se perguntaram: "Meu Deus, mas o que acontece lá? Nunca ouvi falar". Porque a gente não é ouve falar desses lugares, não são pauta do dia a dia das mídias, dos jornais e tal. Essa é a proposta do CCPJ, fazer refletir”, completou.
JM/MB
Fotos: Felipe Cavalcanti/TJRJ