Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro
Caso Henry Borel: audiência de instrução e julgamento prossegue nesta quarta-feira após depoimentos de nove testemunhas
O ex-vereador Jairo Souza dos Santos Júnior, o Dr. Jairinho, e Monique Medeiros acompanham a audiência
A continuação da audiência de instrução e julgamento do processo sobre a morte do menino Henry Borel, morto em março deste ano, começou por volta de 10h50 desta terça-feira (14/12), com a leitura da denúncia seguida do depoimento da última testemunha de acusação, a cabeleireira Tereza Cristina dos Santos, que atendeu Monique no dia em que ela falou por videochamada com a babá Thayná, que mostrou imagens de Henry mancando após supostos maus tratos.
Tereza relatou que, no dia, Monique teria permanecido no salão por cerca de uma hora e meia, que ela continuou no local após a ligação e que não sabia nada sobre a vida pessoal de Monique. Tereza disse ainda que teria ouvido a criança perguntar a mãe se ele a atrapalhava e que, depois, Monique teria perguntado onde teria uma loja onde pudesse comprar câmeras. A cabelereira disse também ter presenciado uma conversa telefônica de Monique com outra pessoa, em que falava para que nunca mais dissesse a seu filho que ele a atrapalhava.
Primeira testemunha de defesa de Jairinho a ser ouvida, o conselheiro do Tribunal de Contas do Município do Rio e ex-vereador Thiago Ribeiro, amigo do réu, disse que trabalharam juntos, que Jairinho era “um dos mais carinhosos” da Câmara Municipal e que o réu teria uma boa relação com Henry e com outras crianças e confirmou que Jairinho teve seu mandato cassado por 50 de 51 votos.
Herondina Fernandes, tia de Jairinho, deu seu depoimento em seguida, afirmando que nunca teve problemas com Monique, que os réus foram presos em sua casa, negou que tenham jogado celulares pela janela no momento da prisão e disse que conheceu Henry, “uma criança muito amorosa“, na casa de praia da família em Mangaratiba. Herondina também afirmou que a polícia invadiu sua casa para efetuar a prisão e que sua residência virou um “espetáculo”, por onde que as pessoas passam e apontam o tempo inteiro. Ela também afirmou que Monique cuidava muito bem de Henry e negou ter ouvido falar que Jairinho tivesse maltratado alguma criança, em referência a outras acusações a que o ex-vereador responde. Ela também negou ter havido atrito entre Monique e Jairinho após a morte da criança.
Última testemunha a ser ouvida antes do intervalo, Jairo Souza Santos, o Cel. Jairo, pai de Jairinho, afirmou que acredita na inocência do seu filho e de Monique, que conviveu pouco com Henry, mas que ele teria tido uma boa convivência com o padrasto, e que Monique se referia a Jairinho como um “príncipe”. Ele contestou as lesões apontadas nos laudos do Instituto Médico Legal (IML), disse que esteve no hospital quando o menino morreu e acusou Leniel, pai de Henry, de “gostar das câmeras”.
Cel. Jairo se classificou como um “pai apaixonado” e afirmou ter lido muitos livros sobre psicopatia que mostrariam não ser este o perfil do seu filho. Para ele, não seria possível Jairinho estar acordado no momento do ocorrido, pois tomava cinco remédios para dormir que o deixavam com sono pesado. Ele também negou que Jairinho tivesse agredido outras crianças anteriormente e afirmou que na sua família havia muito amor. Jairo também descreveu Monique como uma mulher “muito forte, decidida e bem colocada”.
Depoimentos da tarde
A ex-assessora parlamentar do então vereador Jairinho na Câmara Municipal do Rio, Cristiane Isidoro falou sobre sua relação com a família do acusado. Ela foi responsável por tratar de toda a documentação para o sepultamento de Henry e demonstrou estranheza em relação à perícia realizada no apartamento do casal, por ter sido feita, segundo ela, em apenas 10 minutos por dois policiais que se limitaram a tirar fotografias.
Cristiane também negou que Monique tenha solicitado para que fizessem faxina no apartamento. ”Eu estava no carro com a Monique, saindo do hospital, quando ela ligou para a empregada Rosangela, para dispensá-la do trabalho naquele dia”, afirmou.
Em seguida, foi ouvida Fernanda Abidul Figueiredo, mãe de Luís Fernando Abidul Figueiredo Santos, filho mais velho de Jairinho. Para ela, todas as acusações de agressões e violência contra crianças, direcionadas ao Jairinho são absurdas e infundadas. “Jairinho sempre foi carinhoso e nunca levantou a voz contra nosso filho. Eu o conheço há 35 anos, desde que éramos crianças. Criaram um monstro que não condiz com a personalidade e o comportamento de Jairinho”.
O filho de Jairinho, Luis Fernando prestou depoimento em seguida. Ele corroborou com a indignação da mãe em relação às acusações impostas ao pai. Ao ser indagado sobre o fato de Jairinho ter sido cassado por unanimidade, por todos os vereadores da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi enfático em sua opinião: “Ele foi cassado por causa da pressão midiática covarde”.
Também prestaram depoimentos o policial civil Sigmar Rodrigues de Almeida, amigo de Leniel e Rogério Baroni, motorista de Jairinho.
Encerrando a sessão de depoimentos desta terça-feira, a ex-empregada doméstica Leila Rosangela de Souza Matos relatou sobre os fatos ocorridos no dia 12 de fevereiro, quando o menino Henry ficou no quarto sozinho com Jairinho. “Nesse dia a babá, Thayná, me falou que os dois estavam demorando no quarto. Ficaram cerca de 10 minutos. Quando fui no quarto levar umas roupas que havia passado, Jairinho já havia aberto a porta e o Henry correu para a babá. Eu também vi a Thayná ligar para Monique, mas não ouvi o que conversaram”.
Presentes na audiência, Jairinho e Monique se mostraram emocionados durante alguns trechos de relatos das testemunhas. Encerrada nesta terça-feira pouco depois das 19h30min, a audiência de instrução e julgamento continua nesta quarta-feira (15/12).
Presos desde abril, os réus foram denunciados pelo Ministério Público pela prática de homicídio qualificado (por motivo torpe, com recurso que dificultou a defesa da vítima e impingiu intenso sofrimento, além de ter sido praticado contra menor de 14 anos), tortura, coação de testemunha, fraude processual e falsidade ideológica.
Processo: 0066541-75.2021.8.19.0001
SF/JM/MB
Fotos: Brunno Dantas/TJRJ
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