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Redes de Conhecimento em Tempo de Coronavírus
Notícia publicada por DECCO-SEDIF em 15/04/2020 16:49

Num momento em que só se fala no risco que o mundo todo enfrenta, em que um recém-descoberto vírus é uma ameaça praticamente desconhecida, sobre a qual sabemos muito pouco a respeito, ainda com muito mais dúvidas que soluções, a única resposta que ouvimos constantemente é: precisamos ganhar tempo. Tempo para quê? Para nos prepararmos e APRENDERMOS! Precisamos aprender o mais rápido possível, pois, na batalha que estamos travando diariamente, o conhecimento é a mais eficaz arma. Quando somos solicitados a ficar “em casa”, em nosso distanciamento social, o que efetivamente a comunidade médica/científica nos solicita é:

 

“– Por favor, não nos ocupem agora, precisamos ter tempo para nos dedicarmos a duas frentes de trabalho: preparar o sistema de saúde para o que está por vir e aprender novos métodos de combate!

 

Com o conhecimento surgindo de forma extremamente dispersa, como aprender tanto em “[...] um mundo no qual, potencialmente, tudo remete a tudo; um mundo, frequentemente concebido como fluido, contínuo, caótico, em que tudo pode conectar-se com tudo [...]1?

 

A resposta já encontrada há tempos pela área de saúde foi tecer redes de conhecimento, pois, como Barnes (1953)2 nos revelou, duas das principais características das redes sociais3 são sua fluidez e seu caráter contínuo de construção, sendo formadas não somente por indivíduos, mas também por grupos de pessoas, que, ao fazerem e desfazerem conexões, saem dos limites e das fronteiras territoriais, podendo essa rede cruzar toda a sociedade.

 

O trabalho em rede sempre foi utilizado pelas sociedades, especialmente para a área de saúde, isso não é novidade. Quem nunca ouviu falar numa junta médica formada por especialistas tentando resolver o problema desconhecido de um paciente? O que atualmente temos de diferente é a tecnologia, “a qual deve-se reconhecer a importância de seu impacto sobre os processos de desenvolvimento de inteligência coletiva nas redes de interesse dos diferentes grupos sociais4.

 

Para a área de saúde, trabalhar em rede é tão relevante, que a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), se propõe a ser uma organização que construa redes e associações estratégicas entre comunidade acadêmica, centros de pesquisa, organizações não governamentais, organismos de cooperação bilateral e multilateral e instituições financeiras internacionais, entre outras. Cabendo destacar que, já em 2008, essa posição foi proclamada em sua publicação “Gestão de Redes na OPAS/OMS Brasil: Conceitos, Práticas e Lições Aprendidas”, e nela é mencionada sua estratégia de fortalecimento de construção de redes:

 

A OPAS/OMS deve ser uma organização que construa redes e associações:

[...] Em apoio a essa estratégia geral de intercâmbio de informação e conhecimentos e ao fortalecimento das redes, a OPAS/OMS está adotando fortemente o conceito de COMUNIDADE DE PRÁTICA (CdP) e colaboração virtual para gestão de informação e conhecimento no interior da Organização e em atividades de cooperação técnica.”

 

Comunidades de práticas para a resolução de problemas:

[...] Estas comunidades podem possibilitar que os membros da CdP formulem perguntas ou exponham problemas e recebam respostas de seus colegas dentro de uma área de experiência profissional. Além disso, o sistema de perguntas e respostas, em tempo real, entre os membros dentro de um ambiente comum, permite uma resolução mais rápida de qualquer tema. (p.41)

A CdP nada mais é que um:

 

Grupo de indivíduos que se reúnem periodicamente, por possuírem UM INTERESSE COMUM NO APRENDIZADO E NA APLICAÇÃO DO QUE FOI APRENDIDO. [...] as pessoas compartilham conhecimento, trocam experiências, LEVAM SEUS PROBLEMAS E ENCONTRAM SOLUÇÕES5”.

 

Como mencionado pela OPAS/OMS, a Comunidade de Prática tem como principal característica a resolução de problemas de modo mais rápido, sejam eles complexos e graves como a pandemia que enfrentamos agora, até problemas mais simples presentes em nosso cotidiano, como a implantação de um novo sistema de TI ou a revisão de processos organizacionais.

 

Indo na direção do trabalho em rede, o Mapa Estratégico do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro contempla, em seu escopo, um projeto que prevê a criação de ambiente virtual dinâmico para trabalho colaborativo e compartilhamento de informações. Este projeto se encontra em fase de execução, já estando em andamento uma Comunidade de Práticas, ambientada na ferramenta TEAMS, na qual estão envolvidos o Departamento de Gestão dos Acervos do Conhecimento - DGCOM/DECCO, o Departamento de Gestão Estratégica e Planejamento - DEGEP e a Diretoria-Geral de Tecnologia da Informação e Comunicação - DGTEC, além de todas as demais diretorias envolvidas no cadastramento dos projetos estratégicos no novo sistema GRP.

 

Sabemos que tudo que é novo assusta um pouco. Em termos de trabalhar em rede, a própria OPAS/OMS, no prefácio de sua publicação, reconhece  que:

 

“[...] o trabalho em rede como um grande desafio no campo pessoal e profissional. Isso porque o domínio das novas técnicas de comunicação e de utilização de ferramentas tecnológicas pressupõe o compartilhamento como uma estratégia fundamental de crescimento, o que implica transformar processos de desenvolvimento individuais em coletivos.”

 

Acreditamos que o grave momento pelo qual estamos passando nos deixará como legado o seguinte aprendizado: problemas em comum devem ser resolvidos em conjunto.

 

[1] BOLTANSKI, L. e CHIAPELLO, E. 2009. “A generalização da representação em rede” em: O Novo Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martins Fontes. Pp.174-188.

2 BARNES, J.A. “Redes Sociais e Processo Político”. In.: FELDEMAN-BIANCO, Bela (Org.). Antropologia das Sociedades Contemporâneas- Métodos. São Paulo: Global 1987.

3 O conceito de rede social neste texto é abordado de forma mais ampla do que comumente associamos, como por exemplo Facebook, Twiter, Linkedin, entre outras: "Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos

nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho). Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio" (CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000).

4 Organização Pan-Americana da Saúde. Gestão de Redes na OPAS/OMS Brasil: Conceitos, Práticas e Lições Aprendidas. Organização PanAmericana da Saúde. – Brasília, 2008.

5 TERRA, José Claudio C.  Comunidade de prática: conceitos, resultados e métodos de gestão.

 

HA/CHC

 

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